Esse é um dos vídeos mais hilários que vi aqui na Suécia. Pra encurtar a história, aqui tinha um carrinho de cachorros quentes que servia uma salsicha super apimentada. Era chamado de harakiri, do termo japonês pra suicídio, e tornou-se um trend aqui por um tempo.
O vídeo funciona com legendas em inglês. Então é possível assistir e gargalhar gostoso com a reportagem. Era mais apimentado que spray de pimenta que a polícia usa.
E eu já tentei essa iguaria?
Não.
E não vou nunca mais nem tentar porque o dono do carrinho parou de servir. Não que isso mudasse minha opinião sobre não tentar. Mas ele achou que estava chamando muita a atenção e tirando sua privacidade. Vendeu tudo e foi vender hambúrgueres em Malmö.
Update: eu vi que o vocêtubo não está funcionando corretamente nos telefones. Então aqui embaixo está o link pra vídeo.
Se não leu ainda os outros posts, pare e leia pra entender um pouco mais sober a Suécia.
Ao invés de descrever como funciona a Suécia ou descrever como levei meu último tombo de bicicleta aqui. Claro que não foi o primeiro. Já cai algumas vezes andando na neve e no gelo. Mas esse foi o primeiro em que deslizei nas folhas do outono.
Nessa época do ano já fica escuro por volta das 5 horas da tarde. Então luzes nas bicicletas são ítens obrigatórios. E no sentido literal mesmo. A lei de trânsito na região de Estocolmo exige luzes (frontal e traseira) e campainha pra circular com bicicletas. Capacete não é obrigatório (apenas pra crianças e jovens até 15 anos - e é responsabilidade dos pais assegurarem que a criança/jovem o esteja usando). Eu sai mais tarde da empresa pois participava da nossa hackathon bi-anual que aconteceu a primeira edição na primavera e a segunda agora no outono. Mas se tivesse saído às 5 estaria escuro do mesmo jeito. Não choveu, mas o chão está úmido da chuva dos dias anteriores (e talvez durante a madrugada). Ao fazer a minha primeira curva... lá vou eu rolando com bicicleta, laptop, etc. Os freios e marchas da bicicleta ficaram tortos com o tombo. A roda também. Mas eu levo um kit básico de ferramentas e arrumei tudo por lá mesmo pra poder chegar em casa.
Não me machuquei muito uma vez que escorreguei com a bicicleta nas folhas que ficam no chão. Só um arranhão básico.
No dia seguinte descobri mais algumas coisas que ficaram danificadas pela queda.
A fonte eu consegui dar um desentortada na mão mesmo. E está aqui funcionando como se nada tivesse acontecido. O mesmo posso dizer do laptop.
Já no dia seguinte ligou como se nunca tivesse caído no chão. Na verdade eu não sei dizer o quanto ele bateu no chão uma vez que a bicicleta cai por cima de mim (e por isso arranhou a minha perna). Mas fiquei feliz de ver que o laptop da Apple é duro na queda. Ele realmente parece ser bem sólido.
Agora vamos ao ponto do motivo pelo qual eu cai. Primeiro que a culpa é minha. Somente minha. Nessa época do ano eu já não deveria estar usando minha bicicleta road, que tem um pneu slick pra asfalto. Eu tenho uma mountain bike e deveria ter ido com ela mesmo. E o problema dessa época do ano são as folhas e a chuva. Chove bastante, como que pra anunciar que o inverno está chegando e as folhas criam uma camada pastosa escorregadia. Até mesmo de carro é preciso tomar cuidado quando passa por onde tem muitas folhas no chão. Imaginem então de bicicleta?
Eu não cai em nenhum desses lugares em que tirei a foto. Foi num lugar com bem menos folhas. A diferença foi que eu estava rápido demais, no escuro e dando chances demais pro azar. Com esse pneuzinho aí abaixo.
Não estava chovendo no momento da foto, mas é possível perceber o quanto o pneu fica molhado por passar pelas folhas úmidas. E um pneu liso, pra asfalto...
Então imagino que essa tenha sido a última pedalada que dei com minha bicicleta road nesse ano. Vou passar a usar a mountain bike, que logo logo precisarei trocar os pneus atuais pelos pneus de inverno. E talvez no ano que vem considerar trocar por uma gravel, que tem o pneu mais largo e com ranhuras.
Mas enquanto isso, podem olhar os vídeos que fiz com a bike road esse ano. O primeiro foi uma pedalada básica até um local próximo, Upplands Väsby, 67 Km ida e volta, depois Uppsala, 82 Km (voltamos de trem) e finalmente Nynäsham, 73 Km, de onde também voltamos de trem.
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Como o verão foi realmente muito, muito, mas muito bom, eu acabei escrevendo pouco. Então vamos retomar aqui a série falando da Suécia e descrevendo o sistema de saúde daqui.
O sistema funciona com um médico do bairro. O posto de saúde é chamado vårdcentralen (vórdicentralen) e você ou vai até ele e faz um cadastro lá, ou faz online através do 1177, que explico melhor mais pra baixo. Nesse médico do bairro você geralmente é designado pra um médico e esse médico vai cuidar de tudo de você. Então não é um médico especialista, mas um generalista que olha o que você tem e termina o atendimento em 10 ou 15 minutos. Então se tem dor no lado esquerdo do peito e acha que é coração, não vai pra uma cardiologista, mas vai pra esse médico que vai iniciar o tratamento. Talvez receite remédios, mas pode outras vezes receitar somente exercícios. No caso de ser algo mais complexo ou mesmo o tratamento não der o resultado esperado, esse médico vai te passar pra um especialista. Pode ser na mesma clínica do bairro ou num lugar especializado, dependendo do caso. Esse médico especialista aí sim já é um cardiologista, ou o que for referente ao tratamento que precisa.
O sistema de saúde então funciona de forma a desafogar os especialistas de atenderem casos que podem ser tratados com remédios mais simples ou que nem mesmo são para eles. Segundo que barateia o acesso à saúde. E quanto é esse acesso? É gratuito? Não. Para crianças e jovens até 21 anos o médico é gratuito (ou pago pelos nossos impostos como todo liberal gosta de apontar). Depois dos 21 anos você paga uma quantia por consulta. Atualmente está 250 coroas suecas cada consulta. E existe um teto, que deve ser por volta de 2500 coroas suecas (não tenho certeza dos valores atualizados). Acima desse teto o governo cobre o tratamento. Então você tem literalmente que pagar 10 idas ao médico por ano e acima disso (um tratamento crônico) sai de graça (liberal já se doendo de mim). Nem todas as clínicas são 250 coroas. Algumas são mais caras. Eu fui numa especializada em olhos quando arranhei meu olho na máquina fotográfica (longa estória que é melhor contar com cerveja junto numa mesa de bar) e cobraram na época 400 coroas. Mas o teto mantêm-se. E nos tratamentos possíveis inclui-se psicólogos por exemplo. Então fazer terapia aqui custa no máximo 2500 coroas por ano.
Existe também uma ajuda governamental em relação aos remédios. Se você faz uso do medicamento extensivamente, vai ficando barato até atingir também esse teto anual, mas é um outro valor e não tenho ideia de quanto é. Mas existe (e eu felizmente nunca cheguei lá). Então se está aqui com alguma doença como alergia, saiba que comprar remédios sem receita na farmácia podem custar muito mais que comprar com receita.
E como compramos com receita? Aqui tudo é digitalizado. Então você só mostra sua identidade na farmácia e pelo seu "personal number" eles olham o que pode pegar de remédio. E cada remédio recebe uma etiqueta com seu nome, nome do médico responsável, e farmácia onde comprou. Então pode ser traçado pra origem no caso de viagem pela Europa com o remédio. E não existe a menor possibilidade de comprar um remédio que alguém precise no Brasil porque aqui é mais barato.
Passando de médico do bairro pra emergências, existem os hospitais. Mas ir direto pra emergência, akutmottagningen, pode não ser uma boa solução. A emergência aqui é para somente... emergências mesmo. Estar realmente morrendo. Chegar lá com um corte ou tosse pode fazer com que aguarde de 4 a 8 horas por um atendimento. Até então eu não tinha outra ideia sobre emergências aqui até uma das crias sofreu um acidente na escola e tive de ir lá pra pegar e levar pra emergência. E na escola informaram que eu deveria não ir pra emergência, mas pra um "pronto socorro" que é o näravårdcentralen. E realmente o atendimento foi rápido: coisa de 15 minutos. E como era pra criança, não houve cobrança (chora liberal, chora).
Mas esse é o sistema de bairro. E existe o sistema nacional, que mencionei no começo: o 1177. Como o nome parece, 1177 é o número de telefone pra ligar e falar com o sistema de saúde. É possível ligar pra tirar dúvidas ou perguntar o que fazer em caso de emergência. Ficam disponíveis 24x7. E existe o site, o https://1177.se que pode ser acessado pra tirar as mesmas dúvidas ou acerta seu cadastro. É onde você cadastra em qual posto de saúde quer ser tratado. Pode ser qualquer um, desde o mais próximo de sua residência, até o mais próximo do trabalho caso ache mais conveniente ir ao médico durante o período de trabalho. A vantagem do telefonema ao 1177 ao invés do site é que você consegue um atendente que fale inglês enquanto que o site é somente em sueco.
E como são os atendimentos aqui? Você tem direito a um tradutor no seu idioma. E é gratuito (chora liberal, chora). Ele vai lá e fica falando com o profissional de saúde e traduzindo tudo. No começo eu cheguei a usar até ficar confortável com somente inglês. Mas mesmo assim é sempre bom perguntar antes se o médico sabe inglês. Houve casos em que precisei pedir tradutor (geralmente com médicos que vieram de outro país e falam só sua língua e sueco). Eu não sei como funciona atualmente via vídeo conferência, mas acho que o tradutor também entra na conversa. E falando nesse assunto, aqui já é bem comum ter os tratamentos via vídeo conferência. Você conversa com o médico, que se precisar de exames apenas diz onde deve ir pra fazer a coleta. E claro que o médico deixa a opção de encontrar em pessoa com você, mas eu já não vou a um consultório faz uns 3 anos.
Antes da pandemia já existiam alguns apps dedicados pra esse tipo de serviço como Kry e Doktor. Mas com a pandemia as vídeo chamadas com o médico virou o lugar comum. E pra pedir mais medicamento não é preciso nada disso: você pode entrar pelo 1177.se e escrever que precisa de mais receita pra um remédio que faz uso. E o médico olha online e adiciona pra você. Sem custo.
E vou contar um caso do médico aqui que passei logo que cheguei na Suécia. Nessa época eu estava em um apartamento alugado com móveis, e a cama não era das melhores pra mim. Aqui é comum o colchão ser extremamente mole, de afundar dentro dele. E isso causa uma dor terrível nas minhas costas. Então marquei o médico, fiz o primeiro atendimento que passou pro especialista. Daí disseram que por ser especialista, iria demorar mais pra marcar. Quanto tempo? 2 semanas. Eu tive de me segurar pra não rir. Mas chegado o dia do atendimento com o especialista em ortopedia (o médico não era do posto de saúde, mas foi até lá só pra ver meu caso), eu fui esperando o médico pedir um raio-x, tomografia, etc e ele somente disse pra eu trocar o colchão e pedir na empresa uma visita do especialista em ergonomia, que é algo obrigatório em empresas grandes aqui pelo que entendi. E passou alguns remédios caso eu sentisse dores novamente e era pra remarcar dali 1 mês se as dores continuassem. Eu sai da consulta em completa descrença da coisa toda. Mas eu sabia do problema do colchão no apartamento em que estava. E marquei a visita da pessoa de ergonomia da empresa. Essa visita foi a mais interessante. Depois de uma análise de como eu trabalhava sentado e em pé (as mesas aqui têm regulagem de altura, inclusive essa que tenho em casa), a pessoa disse que eu tinha um problema de postura ao sentar. Eu sentava meio inclinado e de um jeito que minhas costas faziam um "C" na cadeira. Daí ela me explicou como regular minha cadeira, que parece feita pela NASA de tantos botões e alavancas, e mostrou que o correto é trabalhar com as costas completamente retas, pra lombar sustentar o peso. E... não preciso de muito spoiler mas esse era o problema (e por isso que recomendo cadeiras gamers em que as costas ficam retas).
Tem quem diga aqui que o sistema médico é muito lento por passar por tantas etapas pra chegar num especialista, mas é um sistema que funciona. Tem lá seus problemas, como o fato dos médicos todos desaparecerem durante o verão e coisas mais complexas como cirurgias levarem quase 1 ano pra serem feitas, mas é um sistema acessível e que funciona. Existe também o problema de que fora dos grandes centros, o acesso a um médico especialista é quase impossível. E foi um dos grandes temas durante as últimas eleições, então acredito que mudanças virão pra melhorar. Eu, de minha parte, gosto do sistema e tem me servido bem.
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Eu já fiz minha reclamação de velho rabugento sobre o inverno. Agora é hora e a época do ano pra falar um pouco sobre o verão.
O verão na Suécia é lindo e maravilhoso. Só que é curto. O tempo começa a esquentar mesmo em junho. Antes disso temos alguns dias mais quentes, mas em geral as noites são bem geladas.
Mas o que começa a pegar bastante em junho não é a temperatura mais quente, mas o sol. Muito de sol.
Essa foto eu tirei à 01:10 da manhã. Estava vendo filme e fui dormir mais tarde. Durante boa parte de junho e julho não tem noite. Fica nesse entardecer e o sol volta. O solstício de verão, dia mais longo do ano, ocorre em 21 de junho.
É maravilhoso. Você fica num bar, aquela cara de fim de tarde e quando vai olhar já são 2 horas da manhã.
O ruim é pra dormir. Ou mesmo ver filmes. Você tem de ter as janelas bloqueadas com blackout ou alguma outra curtina pesada dessas.
E a criançada brinca nos parques até 22:00 como se não houvesse amanhã.
Hoje é 20 de março e finalmente a temperatura atingiu um nível o suficiente pra abrir as janelas pela primeira vez no ano: 15°C. Peço desculpas pelas manchas de poeira acumalada pelo inverno, mas ainda não foi quente o suficiente pra passar um tempo limpando as janelas pelo lado de fora.
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Aproveitando toda a emoção que a primavera traz, também recebemos nosso imposto de renda. O órgão que controla a cobrança de imposto é o mesmo que cuida do registro de pessoas, o skatteverket. Aqui na Suécia nós não fazemos o imposto de renda: ele já vem pronto. Então nos resta apenas confirmar os dados e aceitar. E pronto.
Como tudo é ligado com seu número pessoal aqui, fica fácil pro skatteverket saber qualquer receita que recebeu em sua conta no banco, assim como a gastou. Tudo aqui é registrado.
Você pode alterar o relatório de imposto que recebeu adicionando alguns dados a mais, como serviços de limpeza ou empregada, que emitem um recibo chamado RUT onde 50% do valor pago pelo serviço pode ser deduzido do imposto. Geralmente nem é preciso fazer isso pois o prestador de serviço que emite um RUT pra você já faz o registro junto ao skatteverket. Mas a opção de editar o relatório de imposto de renda existe. Só que qualquer alteração no mesmo já significa que está na malha fina. Emitir nota fiscal amiga? Aqui isso não é possível.
A declaração de imposto de renda pode chegar em forma de papel, como essa da imagem acima ou por formato digital se assim preferir, que é meu caso. Você pode responder que está ok pelo site diretamente, ou pelo correio ou até mesmo por SMS. Eu geralmente faço pela página web. Nenhum plugin adicional é necessário. Só entrar, conferir os dados e olhar se tem algo a pagar ou a receber e enviar.
Ouço isso o tempo todo. Então vamos ao números do meu imposto de renda desse ano. Então no ano passado ou paguei exatamente... rufem os tambores... 26.69%. Contando do que recebi o ano todo e de quanto imposto foi devido.
Aqui o imposto é cobrado por faixas salariais como no Brasil, mas tem o imposto progressivo: quanto maior o salário, maior o imposto a ser pago.
Eu não sei bem as faixas como estão hoje em dia, então estou usando a referência daqui: https://everythingsweden.com/tax-in-sweden/
Esse cáculo de 31% depende de onde mora. Se é numa zona com poucos serviços e precisa de desenvolvimento, esse imposto pode chegar à 36%. Como eu moro no subúrbio de Estocolmo, mas ainda parte de Estocolmo, o imposto é mais baixo. É a parte que vai pra manter escolas, dentistas e médicos na sua região diretamente. Então onde o imposto é mais alto o custo de vida é mais baixo, pois é uma região mais afastada. E quanto mais próximo do centro, mais baixo o imposto mas mais alto o custo de vida, incluindo aluguéis.
Algumas coisas que o imposto morde você com força aqui que escorre até uma lágrima quando recebe o salário: horas extras tem 50% de imposto direto em cima do valor pago, "benefícios" pagos pela empresa cobram 50% de imposto em cima, o que inclui até uso de lavanderia em viagem de trabalho e ticket alimentação.
Outro impostos estranhos que são pagos aqui: televisão pública (1300 sek/ano) e tem um imposto-velório, que você tem todo o serviço funerário disponível quando morrer sem precisar de ninguém pagar por nada. Você já pagou durante a vida. Eu não achei quanto é mas é um valor bem baixo.
Update: achei uma referência do imposto de funeral em https://www.scb.se/en/finding-statistics/statistics-by-subject-area/public-finances/local-government-finances/local-taxes/pong/statistical-news/municipal-taxes-2020/
são 25 centavos por mês.