Se chegou aqui e ainda não leu os outros artigos, então pare e leia agora:
- Minha experiência de quase COVID na Suécia
- Países considerados os mais felizes do mundo escondem problemas graves
- Países considerados os mais felizes do mundo escondem problemas graves - as crianças
- Países considerados os mais felizes do mundo escondem problemas graves - a identidade
- Países considerados os mais felizes do mundo escondem problemas graves - o inverno
Peço desculpas pelo último artigo sobre o inverno. Mas depois de alguns anos vivendo no frio, gelo e escuridão, eu já estou parecido com o argentino no Canadá. Exceto que não cai pra quebrar nenhum osso ainda, nem bati carro na neve e muito menos penso em voltar pro Brasil.
Eu larguei meu rant sobre o inverno e não comentei de algumas coisas loucas que já fiz aqui nessa época do ano. Teve uma vez que caiu uma tempestade de neve que era prevista ser a pior da última década. Era tipo uma confluência de tempestades de neve juntas com mais uma frente fria chegando e tudo mais. Era algo como o dia que até o inferno congelaria. Chamaram carinhosamente de "a besta do leste", the beast of East.
Sabendo das notícias, eu e meus colegas combinamos de trabalhar no tal dia remotamente. E o que aconteceu? Nada. Não nevou. Ficou tudo ok. Então durante aquele dia decidimos todos ir pra empresa no dia seguinte.
E eu fui de bicicleta.
Só que a tal mega tempestade de neve pegou algum congestionamento na Alemanha e chegou no dia seguinte. E com força. Eu por acaso consegui registrar muita coisa.
Foi até engraçado, mas o ruim foi que nevou muito. Demais. Carros foram soterrados na neve. Quem estava na empresa saiu por volta das 10 horas da manhã porque os carros estavam desaparecendo na neve. E quem saiu nesse horário ficou preso num mega congestionamento, porque estava intransitável. E eu com a minha magrela.
O esforço de pedalar na neve é parecido com o de pedalar em areia fofa (chuto que seja porque nunca tentei andar de bicicleta na praia, mas andando é a mesma sensação, então deve ser também parecido). Cansa. Cada 2 ou 3 pedaladas que eu dava, andava meia pedalada. Mas eu sobrevivi. Fui e voltei ao trabalho numa das piores tempestades de neve dos últimos tempos.
Só que de noite, enquanto eu dormia, simplesmente tive câimbras nas duas batatas das pernas. Eu lá, dormindo e babando, e de repente eu pulo (e caio) da cama gritando de dor com as duas pernas travadas. Dizem que maratonistas novatos têm esse tipo de reação depois do esforço extremo da corrida. Eu precisei trabalhar o restante da semana de casa porque nem andar eu conseguia direito.
Foi louco, mas eu fiz. Acho que maratonistas também sentem a mesma coisa. Tanto de adrenalina e sentido de superação quanto as câimbras. Não sei se faria novamente. Mas como estamos todos em casa por conta da pandemia, então não preciso pensar muito nisso.
E agora um fato que aconteceu esses dias e tirei uma foto pra registrar.
É a mesma foto que abri esse artigo, digo, o mesmo lugar, mas repare nas crianças na plataforma.
Eu esqueci de dizer nos artigos anteriores que as escolas levam as crianças pra excursão usando o transporte público. A pessoa mais na frente é a professora ou professor. E de manhã é bem comum ver um monte de alunos na plataforma do metrô. Em alguns casos eles vão à biblioteca do bairro, que fica a uma estação dessa, em outras vão visitar museus. Sim, museus. Os museus aqui na Suécia, e principalmente em Estocolmo que tem muitos, é um lugar de diversão pras crianças. Eles têm geralmente um parque indoor temático, relacionado à exposição do museu, onde as crianças podem brincar e aprender.
As fotos a seguir são das partes pras crianças brincarem no tekniska museet, museu de tecnologia. O mesmo onde está o primeiro servidor do piratebay.
E enquanto as crianças estão entrando ou saindo do trem do metrô, o maquinista espera. A última pessoa a entrar e sair é o professor. Quando a turma é muito nova, como jardim da infância, eles vão em 2 professores ou então duas turmas de crianças com 4 professores. E sempre tem um que sai ou entra por último e faz sinal pro maquinista que está ok pra ir. E só então o trem fecha as portas e segue. É algo tão, mas tão, mas tão comum aqui que eu esqueci de escrever sobre isso antes.
E agora algo sobre mulheres e maquiagem.
Essa revista chegou hoje. Essa é a típica mulher sueca aqui. Não só pelos olhos azuis e cabelo loiro, mas pela pouca maquiagem. E não existem nenhuma sensualização dela na foto. E apenas ela sendo ela. E confesso que depois de um tempo aqui, passando por essa desintoxicação quanto ao marketing brasileiro e objetificação feminina, eu já acho hoje em dia as propagandas que vejo do Brasil com algo bem vulgar.
E é isso. Guardar energia pra escrever mais na semana que vem. Que com certeza terá mais frio, mas já menos escuridão.
Já é possível ver como melhorou muito o tempo aqui. Peço perdão pelo sarcasmo.
UPDATE 2022-01-22: algumas fotos de como realmente fica tudo em volta durante o inverno, sem o romantismo das bolas de neves. Parte da sujeira é por causa da areia, mostrada numa das fotos, que serve pra dar um pouco de atrito no gelo e tentar ajudar a não escorregar tanto. Mas boa parte do que se vê são os "icepacks", pacotes de gelo. Neve que derreteu e congelou de novo. Tirei as fotos hoje durante minha ida ao restaurante próximo pra comprar o almoço.