Acho que nada dá mais prazer no trabalho que receber um laptop novo. Tem gosto de natal. Em geral esse sentimento de felicidade se dá a cada 3 ou 4 anos, dependendo da política da empresa (e do faturamento, claro).
Ano passado, pela mudança de local e país, eu já tinha recebido um "monstrobook" HP ZBook 15 para trabalhar. Apesar da versão mais nova de hardware, não era muito diferente do meu antigo laptop, também "monstrobook", que descrevi em "rodando Linux no HP EliteBook 8570w" e que pesava por volta de 5 Kg com a fonte de alimentação. Notebook parrudo, mas muito, muito pesado.
No final do ano passado recebi a excelente notícia que todos os notebooks corporativos HP deveriam ser trocados pra Dell pros que usavam Linux, que é meu caso. Felicidade transbordando, vamos às compras.
Entre as opções corporativas, vários notebooks, vários latitudes e inspirions. Notebooks bons, mas sem muita diferença pra o que eu já tinha antes. Então resolvi arriscar e pegar um ultrabook, ainda mais um que tinha a cara do que eu queria: Dell XPS 13 Ubuntu Developer Edition. Eu nunca tinha usado um laptop tão pequeno e principalmente sem drive de CD/DVD. Mas se Linus Torvalds trabalha num MacBookAir, então resolvi arriscar em algo parecido.
Não vou comentar muito da parte burocrática, pois foi algo chato e que não acrescenta muito. Apenas que o laptop demorou uma eternidade pra chegar por ser teclado US e quando chegou, veio com o teclado nórdico. No fim a Dell mandou outro laptop ao invés de trocar o teclado. Excelente serviço pós-venda deles. Ao menos pros clientes corporativos.
E gravei o unboxing do brinquedo novo (aliás, como é difícil abrir e desempacotar tudo com uma só mão):
Do laptop, nada a reclamar. Leve, muito leve. Algo como 1,2 Kg sem a fonte, que também é pequena. Parte externa metálica. E bateria que dura por volta de 6 horas. Isso mesmo. Eu passo quase que o dia inteiro trabalhando sem conectar na energia. Coisa maravilhosa.
A placa de vídeo não é das mais fortes. É uma placa Intel Broadwell-U. Funciona bem com os kernels mais novos (estou rodando o 4.1.2 no momento) mas tem alguns problemas pra usar monitor externo na versão de Ubuntu que vem de fábrica.
Falando no Ubuntu, sim eu tive de remover. Nada contra Ubuntu ou algo assim, mas usamos uma versão corporativa dele na empresa. Então tive de remover o Ubuntu 14.04 que veio instalado pra instalar... Ubuntu 14.04.
O sistema roda redondo, sem problemas de driver ou algo do gênero. Vantagem do árduo esforço da Intel junto ao Linux pra implementar seus drivers. Bluetooth, wifi, controle de volume pelo teclado, tudo, absolutamente tudo sai funcionando de primeira em Linux. Mais precisamente Ubuntu, mas acredito que não será diferente com outras distros.
O único ponto bizarro dele é mesmo a webcam, que fica na parte de baixo da tela. Então eu fico com um certo olhar de superioridade em todas as conferências que faço via skype ou algo do tipo. Eu já sabia desse ponto, mas não diria que é um ponto negativo a ponto de abandonar a aquisação dele.
Outro ponto que é um limitante é a memória RAM. Pra manter o sistema compacto o suficiente pra caber tudo num ultrabook, a memória RAM é soldada diretamente na placa mãe. Com isso, nada de upgrades. Então a máquina veio com 8 GB de RAM e esses mesmos 8 GB vão ficar por aqui até o fim da vida útil dele. Sem problemas agora, mas será que não vou achar pouco daqui 3 ou 4 anos? Bom... só não rodar Java já libera uns 4 GB com certeza.
Outro ponto é que são somente duas portas USB. USB 3.0, mas só 2. Então um HUB USB é essencial pra poder conectar mouse, pendrive e HD externo. Além da interface ethernet quando dá pau no wifi. Tem saída de vídeo display port, portanto um cabinho display port pra hdmi no DealExtreme é realmente algo necessário. E tem um mostrador de nível de bateria, que é muito útil quando se desliga o laptop, mas usa a porta USB pra alimentar o celular. Tem leitor de memória SD que uso de vez em quando e só. E tudo funcionando lindamente em Linux.
Outro problema que tenho de tempos em tempos é bug com a placa de vídeo. Conectar em monitores externos e remover, dá uns crashes bonitos no drive da Intel de vez em quando. Então meu uptime não é muito alto. Mas sobrevivo bem com o disco SSD que faz o boot em alguns segundos.
Dados técnicos (saídas de comandos como lspci, lsusb, etc):
Não é um fenômeno recente. Faz alguns anos que esse sintoma tem aparecido. Mas não é no mundo todo. Até o momento só vi isso vindo do Brasil, o mesmo país que pede pela volta dos militares ao poder com a chamada "intervenção militar no Brasil". Temas distintos, modus operandi similar.
O princípio é "se não for como eu quero, então está errado". Isso pode ser usado em qualquer âmbito: religião, futebol e até mesmo em... software livre!
Essa discussão em software livre já vem caminhando nessa direção faz algum tempo. E sempre com extremismo. Os pontos são sempre "se não for livre, então é outra coisa". A moda do momento é chamar como "OSIsta", uma alusão pejorativa de quem usa ou endossa a iniciativa do "open source". Notem novamente o "modus operandi": é preciso ter um nome, um label, um rótulo, algo pra classificar, desmerecer, pra fazer um dualismo, uma contra-posição.
Essa tendência repete-se nitidamente na política, como se verificou nas últimas eleições presidenciais. Ao invés de um debate democrático, partiu-se pra um enfrentamento de "nós x eles". No caso da política, de ambos os lados, e todos recheados de mentiras e números mágicos pra comprovar alguma coisa. O ponto era sempre irrelevante, o importante era ter uma "torcida" contra e outra a favor.
Em software livre estamos na fase das "torcidas". É um tal de "minha distro é melhor que a sua" e de "pra resolver esse problema, instale a distro tal". Perdemos o saber, o conhecimento, o prazer técnico. Voltamos à idade da pedra digital. Batalhas épicas são travadas por causa de interfaces gráficas. Ninguém mais liga se é possível instalar essa mesma interface em outra distro ou não. Ajudar? Escrever software? Não, muito obrigado.
O que é uma comunidade? A wikipedia, que é uma comunidade, nos ajuda a responder do ponto de vista sociológico:
Uma comunidade é um conjunto de pessoas que se organizam sob o mesmo conjunto de normas, geralmente vivem no mesmo local, sob o mesmo governo ou compartilham do mesmo legado cultural e histórico. Os estudantes que vivem no mesmo dormitório formam uma comunidade, assim como as pessoas que vivem no mesmo bairro, aldeia ou cidade. Fichter, 1967 em suas Definições para uso didático ressalta que uma palavra que é rodeada de significados múltiplos, requer uma cuidadosa definição técnica, ao que propõe: comunidade é um grupo territorial de indivíduos com relações recíprocas, que servem de meios comuns para lograr fins comuns.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Comunidade
São indivíduos reunidos por algo comum em buscar de reciprocidade pra chegar nos mesmos objetivos. Isso significa que pra fazer parte de uma comunidade basta... participar!
E numa comunidade de software livre? O que se espera de alguém que participe de software livre? Pode parecer loucura minha, mas se espera que a pessoa faça... software! E livre! Livre! Que coisa doida, não é?
Claro que nem todos têm essa capacidade de escrever software. Mas sempre podem colaborar como membros de um grupo, ou até vários. Podem ajudar com traduções, escrevendo novos documentos de uso, compartilhando experiências em blogs, participando de grupos, fazendo eventos, palestrando, escrevendo relatórios de bugs e... eventualmente... escrevendo software!
Numa comunidade esse é o caminho do aprendizado, vai se crescendo conforme se participa e adquire mais maturidade. Uma comunidade de software, seja livre ou não, não vive por muito tempo se ninguém se dispuser a escrever o software. No caso de uma comunidade de software livre, temos de fazer sempre software, e livre.
E como define liberdade? Como um software é livre?
Nisso o Richard Stallman já nos ajudou mostrando que pra um software ser livre, ele precisa atender as 4 liberdades. Eu já tinha descrito no post "freesoftware e negócios", mas o faço novamente aqui:
Então pra fazer parte de uma comunidade de software livre, basta criar softwares partindo desse princípio básico. E a licença? Sempre depende de quem criou. Alguns gostam da GPL (sendo que GPLv2 e GPLv3 são muito diferentes), já outros preferem BSD, ou Artistic License. Eu uso uma no estilo da Artistic License, a BWL.
Veja que software livre não é algo que dá poder ao programador ou desenvolvedor, mas ao usuário, que pode usar o software como quiser e quando quiser. Inclusive pra vender. O desenvolvedor permite que qualquer um possa usar e melhorar seu software.
Foi esse tipo de liberdade que me atraiu pro software livre. Não foi pra libertar um país de nenhum ditador, nem pra subverter a economia, muito menos pra derrotar o capitalismo. Eu gostei da visão pragmática do software livre, onde todos têm acesso ao código fonte e podem melhorar o software. Isso pra mim foi e ainda é liberdade.
Mas aparentemente não pra galerinha que gosta de rotular. Software livre extrapolou os limites do software pra se tornar uma luta de classes. Como ideologias econômicas temos o capitalismo, o socialismo, e agora o softwareliberalismo. Não, não existe, mas para alguns, aparemente é o que é.
E como se define um líder numa comunidade? Em geral é pela meritocracia. Meritocracia de fazer polêmica? Não, meu caro. Deveria ser por ter passado por todos os estágios de uma comunidade de software livre. Mas quantos que gritam pelas ruas pela "liberdade do software" realmente se encaixam nesse perfil?
Muitos desses "lutadores da liberdade", ou melhor, "gladiadores da liberdade" escolheram o Ubuntu como alvo. Qual o motivo? Duas respostas simples:
1) Ubuntu lidera o mercado de desktops Linux
2) Ubuntu não é uma distribuição criada por uma comunidade, mas por uma empresa, a Canonical
Então qual é o mais fácil de atacar? Quem tem o menor número de usuários ou o maior? Claro que o maior. Por isso que Ubuntu é sempre escolhido como alvo preferido. E enquanto mantiver essa liderança, continuará sendo. Pra isso não importa se trouxeram mais usuários pra Linux, se mantém um portal pra correções de bugs ou que façam doações de mídia de instalação gratuitas. É corporativo, é do mal. O que antes era ocupado pela Microsoft como visão de antagonismo, agora é a Canonical com seu Ubuntu. É sempre preciso ter um inimigo pra lutar contra.
Os problemas citados? Vou apenas comentar um: Ubuntu "monitora seus usuários". A Canonical, mais uma vez como empresa, decidiu monetizar o Ubuntu utilizando as "lentes" de seu ambiente desktop pra fazer buscas na Amazon e assim conseguir algum financiamento com essas buscas. O mesmíssimo mecanismo usado por... FIREFOX! Sim, o browser Firefox. Quando se faz a pesquisa na caixa de pesquisas do browser, ele envia ou pra Google ou pra Yahoo, pra monetizar o projeto e assim poder financiar seu desenvolvimento.
Mas o Firefox, ou melhor, a Mozilla não é líder. Nem em browsers, nem em telefones (que recém lançaram e não fez muito diferença pros usuários). Então não vale a pena receber o ódio dos gladiadores da liberdade. É preciso ter um significado, mostrar alguém com monstro, como contradição. É preciso ter um diabo pra existir um deus.
Todos os outros comentários sobre Ubuntu, e que podiam ser pra qualquer outro, caem no caso de factóides. São apenas meia-verdades contadas pra criar um fato, um caso. Apenas pra gerar polêmica e buscar atenção. Não vou comentar mais nenhum, mas da próxima vez que ouvir sobre algo assim, pergunte a si mesmo qual é a licença usada nesse software/produto da Canonical, se o código fonte está disponível, se é usado pela Canonical, pelo kernel (Linux), se é usado por outras distribuições profissionais como RedHat e Suse, e se qualquer usuário poderia optar por remover ou não pelo gerenciador de pacotes. Se está entre algum desses, factóide na certa.
Acho que não. Ubuntu não precisa disso ou de qualquer um de nós. É gerido por uma empresa, e não por uma comunidade. Como tal, toma suas decisões como melhor convier pra seu negócio.
E se em algum momento o Ubuntu ou a Canonical se sentirem lesados por essas atitudes, tenham certeza que seus advogados agirão.
Eu gosto do Ubuntu pela facilidade de entrada ao mundo de software livre que proporciona às pessoas. Não é feito pra mim ou pra qualquer um que já use Linux, mas pra quem nunca usou ou experimentou. Esse tipo de usuários (veja que não me refiro como comunidade, mas usuário) não tem interesse ou conhecimento sobre liberdade. Não nesse primeiro contato, que é muito importante.
Eu sou fã irrestrito do Debian, mas simplesmente desisti de tentar esse primeiro contato através dele. Por que? Debian não é bom? É bom pra mim. É ótimo. Mas toda vez que tentei fazer uma instalação pra amigo, pra convencer a usar, virei um tipo de suporte técnico. Aliás personal suporte técnico. E problemas não faltaram. De upgrade que parou de funcionar ambiente gráfico a modem que não conectava mais na Internet.
Atualmente recomendo usar Ubuntu sem medo. Se gostar e quiser aprender mais, ensino sobre Debian. Se achar horroroso e difícil, já abandona ali mesmo. Ganhei tempo ao invés de perder.
Esse é o discurso que todos deveriam adotar em software livre: inclusão. Mas ao contrário disso decidimos por ir direto pela segregação.
Incrivelmente alguns realmente acham que esse caminho dará certo. Eu prefiro concordar com a imagem que o Patola postou num dos grupos que discutiam esse tipo de assunto. Deixa bem claro quem realmente ganha com a ajuda dos gladiadores da liberdade.