Se um dia disserem que é verdade, negarei com todas as forças. Vamos dizer que essa história é uma ficção e que esse tipo de coisa nunca acontece nos meios corporativos.
Então toda e qualquer referência por aqui é pura imaginação minha, certo?
Pois então. Sabem o que é virose? Não? Não minha opinião, é algo genial criado pelos médicos. Já explico: pra quem tem filho, é comum ir ao médico pra ver alguma febre repentina que surge no meio da noite. E, na falta de um diagnóstico, é comum ouvir o termo "ah, isso é algum virose". Em geral trata-se com algum anti-termal (paracetamol ou algo do gênero) pra controlar a febre, e só. Tem de se esperar passar.
Pois uma vez eu trabalhava com um sistema de stream de vídeo, e o vídeo, vez ou outra, mostrava umas áreas "quadriculadas" por alguma perda de pacotes da rede. A questão é que a topologia estava exatamente assim:
O servidor de stream estava conectado num roteador de core, que ligava via fibra ótica (10 Gbps) ao switch core, que ligava no DSLAM. O DSLAM dividia a saída em 2 VLANs: uma pra Internet em geral, e outra específica pra TV. Não existia nada mais ligado nessa rede.
E quando é época de inferno astral, realmente não se tem muito o que fazer. Pois bem no dia em que estávamos testando isso, surge uma "visita" inesperada do diretor da conta de vendas, querendo ver como andavam os testes. No exato momento em que ele adentra a porta do recinto, a TV (talvez já mancomunada com algum ente espiritual maligno, algo como o exu-tranca-sistemas) resolve expor os pequenos pontos quadriculados.
A meia hora seguinte foi de sabatina de perguntas sobre o motivo dos quadriculados. Resolveu-se que aquilo era inaceitável e que a topologia deveria ser revista. Toda ela.
Não houve solução senão ir conectando o setupbox (a caixinha que convertia o stream pra saída de vídeo da TV) nos nós da rede para tentar detectar qual elemento estava falhando. Primeiro retiramos a parte DSL (DSLAM e modem), ligando diretamente no switch core. O quadriculado continuava lá.
Movemos diretamente para o roteador de core, apenas trocando a porta de fibra ótica para ethernet. E o quadriculado continuava lá.
Então conectamos diretamente no servidor de stream, para assim já decretar sua morte e dizer que tínhamos encontrado a origem do problema. E o vídeo passou normalmente...
Esse é o exato momento em que todo mundo fica com aquela cara de poker face.
Então resolvemos reconectar ao roteador, pois esse deveria ser o causador do problema. Tudo conectado, fomos aos testes e... vídeo funcionando perfeitamente. Nenhum problema aparente.
Então conectamos novamente ao switch core para verificar se o problema poderia ser a porta de via fibra ótica e...
Voltamos ao DSLAM e...
Assumimos que aquilo era obra do demônio, o exu-tranca-sistemas mesmo, e seguimos a vida em frente, ou melhor, continuamos com os testes.
Ao final do dia, recebo uma ligação de um alto escalão querendo saber se o problema havia sido resolvido. Expliquei gentilmente que sim, e que todos os elementos de rede tinham sido revisados. Então recebi a pergunta fatídica: qual era a origem do problema?
Sem titubear, respondi:
- Virose de rede, mas já estamos administrando 10 pings de 4 em 4 horas, por 7 dias, para evitar inflamações nos links.
E tudo teria terminado aí, se não houvesse uma apresentação para altos executivos.
No dia da tal apresentação, apareceram os distintos senhores, todos devidamente engravatados. E começou-se a apresentação. Eu, por ser um cara muito técnico, apenas fiquei ao fundo da sala assistindo a apresentação, que era ministrada por alguém que eu nunca tinha visto na vida, e que estava também devidamente engravatado. E falava com bastante segurança sobre os testes realizados. E tudo corria bem e tranquilo, com exibição perfeita do vídeo, quando, ao final da apresentação, o engravatado soltou em alto e bom som:
- E durante os testes, nossos técnicos encontraram uma virose de rede. Mas eles trabalharam arduamente para elinimar esse vírus e agora garantem que os links não ficarão inflamados, não afetando a performance do vídeo.
Tive de sair da sala para não engasgar de tanto rir.
Desde o fim do ano passado, tenho percebido que o Estadão resolveu colocar um filtro de conteúdo em alguns de seus artigos na web.
Como o conteúdo pertence ao jornal, eles têm todo o direito de fazer esse tipo de abordagem. Mas o que eu acho chato é que eles publicam esses artigos no twitter, e depois enfiam na sua cara o bloqueio.
Enfiam? Será?
Se enfiam na cara, quer dizer que roda na minha máquina e não na deles, certo? Então eu posso dizer para meu navegador (no caso o Google Chrome) "não" ler esse bloqueio, não posso? Claro que sim!
Depois de uma procura no código da página, encontrei um javascript que chama uma função fadeOut() para criar esse efeito. Bastou então achar o arquivo javascript com tal função. Pra isso contei ajuda do browser por linha de comando Lynx e um pouco de shell script.
for link in $(lynx \
-source -dump \
"http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,pistorius-rejeita-acusacao-de-assassinato-da-namorada,997339,0.htm" | \
grep js | \
sed "s/.*src=\"//" | \
grep estadao | \
sed "s/\".*//" | \
sed "s|^/|http://www.estadao.com.br/|" | \
grep -v img.estadao)
do
echo $link
lynx -dump -source "$link" | \
grep -i fadeout && \
echo "ACHEI: $link" && \
break
done
Então consegui achar que o vilão é o javascript de jquery:
http://www.estadao.com.br/estadao/novo/js/jquery-1.5.2.min.js
Bastou então usar o AdBlock Plus pra bloquear esse arquivo e tudo funcionou novamente.