Continuando os posts sobre duas rodas, as últimas pedaladas que fizemos aqui em volta de Estocolmo.
O primeiro lugar chama-se Blå Lagun, que é Lagoa Azul. Lugar bem bonito mas bem remoto.
O segundo foi pra um bairro mais distante que tem a opção de voltar de trem, Bålsta.
Pediram algumas dicas sobre bicicletas no Mastodon, o que respondi prontamente. No final o histórico que contei pro lá acho que é algo que vale a pena guardar aqui, pra ficar salvo pra posteridade.
Eu não era uma pessoa que pedalava pra valer. Eu sempre gostei de andar de bicicleta, mas eram aquelas distâncias curtas de no máximo 15 Km. Muitas vezes bem menos que isso.
Então eu tinha uma Caloi Aluminum, uma mountain bike que me servia muito bem.
Ela tinha um bagageiro traseiro, que eu prendia a mochila, e algumas vezes ia trabalhar com ela. Mas naquela época era dureza. Não existiam ciclovias e eu tinha de lutar pelo meu lugar no asfalto com carros, ônibus, fretados e motoboys. E não foram poucas as vezes que até os motoboys me fecharam, pra eu cair mesmo. Até hoje não sei se tinham raiva por eu estar ali no trânsito pedalando ou se era apenas pra ver eu cair mesmo. Mas com isso minhas frequências de pedaladas não eram lá grande coisa.
Chegou o momento de mudar pra Suécia e empacotei a bicicleta pra vir pra cá. Veio no container, então chegou uns 3 meses depois que já estávamos instalados aqui numa casa em que alugamos em Sollentuna.
Mas como por aqui existem ciclovias pra todo lado (ou quase todo lado como fui descobrir mais recentemente), eu estava doido pra pedalar aqui e ir pro trabalho.
Eu aindei com ela algumas vezes até perceber que o garfo estava ao contrário. Mas foi o começo e passei a pedalar um trecho que o Google dizia levar 20 minutos pra eu completar. Eu levava 50 minutos. E chegava morrendo na empresa.
Eu era um barnabé sobre duas rodas. Usava um capacete bem ordinário que ganhei de um colega do trabalho e um par de luvas que comprei na loja de materiais de construção. Era basicamente um "luva de pedreiro" do pedal. E continuava amarrando minha mochila no bagageiro traseiro, que rendeu algumas quedas no meio do caminho.
Logo chegou o inverno e eu decidi continuar pedalando.
E aí os problemas começaram. Pra derreter o gelo, jogam uma areia com sal. Bastante sal. Então primeiro foi a catraca que travou e ficou rodando sem travar a roda. Tive de comprar um solvente pra derreter o sal que estava dentro pra pode voltar a usar.
Em seguida foi um dos pedais. Deu folga onde é parafusado e caiu. Simplesmente caiu. Eu tinha um par extra, mas descobri que a rosca, que era alumínio, no crankset corroeu com o sal. Então colei o pedal com superbonder e segui pedalando. Ela ainda rodava, e assim eu passei o inverno. E mudei pra onde moro até hoje.
Por aqui existe um bicicletário onde você coloca uma das rodas e deixa a bicicleta lá travada. E esse foi o problema.
O vento empurrou a bicicleta de lado e entortou a roda. Então eu tinha uma roda torta, um crankset colado e um pedal perdido. Cotei os preços pra trocar e era o preço de uma bicicleta nova. Aliás com a mão de obra saia até mais caro. Foi aí que passei pra minha primeira bicicleta local.
Nessa época eu morava no que o Google dizia levar 30 minutos pedalando e eu fazia em 45.
Essa bicicleta é um misto de mountain bike com quadro e garfo rígidos. É muito boa pra pedalar em asfalto e é possível arriscar algumas trilhas com ela. Coloquei um assento traseiro pra levar a filhota pra escolinha e depois minha mochila, mesmo no inverno, e assim parti pro pedal. No inverno sempre com pneu de inverno pra não escorregar e lamber o asfalto (o que fiz algumas vezes mesmo usando esse tipo de pneu).
Conforme a filhota cresceu e não precisou mais da cadeirinha, eu passei a usar uma cesta na traseira pra carregar as coisas. Nessa época eu já tinha comprado a roupa mais adequada pra pedalar tanto no verão quanto no inverno. Mas o inverno sempre sendo mais difícil que o verão em termos de roupa. Precisei ir ajustando os modelitos pra aguentar o tranco.
Como eu usava a bicicleta pra tudo, inclusive fazer compras, que exigia uma certa logística já que não existia um supermercado perto de casa, eu acabei trocando a cesta na traseira por uma caixa. Isso facilitava carregar compras e coisas maiores pra cima e pra baixo. Mas confesso que não era algo... visualmente bonito. Era funcional, com certeza.
E foi nessa época que também comprei esse suporte pra dar manutenção em bicicletas. Era mais barato que pagar mão-de-obra pra fazer o que eu precisava, que era majoritariamente trocar o pneu pro de inverno.
Nessa época eu consegui manter os 30 minutos de pedalada pra firma no verão. No inverno o tempo varia com qualidade da limpeza da rua, levando entre 45 minutos até 1 hora.
Se você perguntar qual a razão de eu ter comprado uma outra bicicleta, uma mountain bike, se a híbrida já me servia bem, eu vou responder que não sei, só sei que foi assim. Eu vi a bicicleta em exposição na loja e achei a cor incrível. Linda. E a suspensão ajudaria durante o inverno. E o vendedor deu um belo desconto no valor. Acho que foi 15% (mas faz bastante tempo então posso estar enganado). E comprei. Precisava? Eu não precisava. Mas eu queria. Estava passando pelo divórcio, então eu queria me dar esse presente.
Então essa foi minha segunda bicicleta aqui. E nela eu comecei a querer pedalar muito mais. Fiquei bem audacioso. E tentei algumas distâncias mais longas como 40 Km, que me deixaram exausto. o problema era o peso da bicicleta e a velocidade máxima (e a média também). Mountain bikes são ótimas pra trechos curtos, mas são muito pesadas. Eu conseguia uma velocidade máxima de 20 Km/h e uma média de 12 Km/h. Uma pedalada pra um local distante 20 Km eram praticamente 4 horas em cima da bicicleta.
Nessa época eu aderi ao uso da roupa de lycra apertada. Descobri que ela protegia muito mais do frio por estar colada ao corpo. E comprei meu primeiro kit de ciclismo com a marca da firma.
Meu tempo de pedalada pra firma não mudou muito. Continuei com o tempo de 30 minutos no verão e uns 45 no inverno.
Como eu queria pedalar longas distâncias, arrisquei e comprei uma bicicleta road da Sava. Toda de fibra carbono. A bicicleta toda pesa acho que o mesmo que a trava que eu uso na mountain bike. Bricandeira, não é tão leve assim, mas é leve. Acho que 9 Kg.
Meu primeiro problema com a road foi a falta de bagageiro traseiro. Ela veio sem a furação pra poder colocar um. Então tive de botar um que era preso ao quadro só por pressão.
Mas de resto a bicicleta era uma maravilha. Tem o passo de adaptar a usar o guidão no estilo drop-bar, mas depois de umas 5 andadas nelas, eu já conseguia me virar bem (e não cair). E consegui atingir o objetivo de pedalar numa velocidade média acima de 25 Km/h, o que viabilizava pedaladas mais distantes como eu queria. O fato de ser mais aerodinâmica também distribuiu bem o peso. Ao invés de ficar o tempo todo sentado em cima da lombar, como no caso da mountain bike, eu conseguia distribuir o peso entre os braços e as costas.
O ponto negativo era que eu ficava com dor e cansado no pescoço, nas costas e nos braços depois de uma pedalada não muito longa. Mas nada que o treino não melhorasse.
Mas no fim eu optei por comprar um braço móvel pro guidão e subir um pouco mais pra ter mais conforto nas pedaladas mais longas.
Com a Sava eu comecei a quebrar meus recordes. O mais rápido que consegui pedalar pra firma foram 22 minutos. Mas eu nunca a usei no inverno. Aliás até tomei um capote nela já no outono em cima das folhas como descrevi em Países considerados os mais felizes do mundo escondem problemas graves - levei um tombo de bicicleta. Eu continuo usando a mountain bike durante o inverno.
E por fim chegamos na última, ou a mais recente das bicicletas, a Trek Al Domane 3. O que me levou a comprar outra bicicleta se eu tinha achado meu ethos na road? Primeiro que eu estava sempre com aquele receio do bagageiro adaptado. Como forçava o quadro de forma diferente da que foi projetado, eu sempre tive a preocupação de que aquilo iria causar fadiga no carbono. O segundo ponto foi... as estradas.
Na viagem que fizemos até Upsalla, 80 Km, tivemos a infelicidade de um dos pneus furar. Mas estávamos preparados com câmaras extras, bomba de ar, etc. Mas o problema é o tipo de terreno. Em volta de Estocolmo existem ciclovias. Mas basta sair um pouco fora que invariavelmente precisamos pedalar em gravel. E uma bicicleta road o pneu é muito fino. Muito. Ela é feita pra asfalto somente.
Daí entra o investimento numa gravel. Ela tem pneu adequado, quadro mais forte, etc. E já veio com as furações pro bagageiro traseiro, além de permitir um frontal se eu quiser. Além disso a distância entre o banco e o guidão é menor, o que dá mais conforto em pedaladas mais distantes. E não precisei nem usar meu adaptador regulável. Ponto negativo? Ela é mais pesada que a road. Bem mais. Mas nela eu tenho certeza de poder usar a bicicleta pra realmente viajar e até mesmo acampar sem medo de ficar com problemas no caminho.
Eu ainda não medi meu tempo nessa gravel pra ir pra firma porque eu estou fazendo um caminho mais longo pra ir pedalando junto com um amigo. Mas imagino que eu faça abaixo de 30 minutos pelo caminho antigo, que aliás está em obras e exige um contorno bem longo que adiciona quase que 1 Km a mais.
Agora qual será a minha próxima bicicleta?