Tem sido bastante difícil pra mim manter meu site atualizado, e não estou conseguindo manter meu ritmo de ao menos 1 post por semana. Sinal de trabalho duro em outras coisas.
Estava pra comentar sobre esse assunto espinhoso, dos vírus pra Linux, faz um certo tempo. Ao menos desde o início do ano. Mas... enfim consegui um momento livre pra eu poder fazer isso.
A pergunta que surge de tempos em tempos é clara: EXISTEM VÍRUS PRA LINUX?
As respostas variam. Defensores de Windows dizem que com toda certeza existem. Mostram receitas esotéricas sobre como isso é possível e sempre voltam com a famosa frase "nenhum sistema é infalível", ou algo parecido com isso.
Os defensores de Linux, eu me incluo nesse grupo, dizem que é impossível. Linux não é Windows. Não foi feito sobre a mesma plataforma furada da Microsoft, que é cheia de buracos, e até provavelmente com alguns toques da NSA pra ajudar. Se o usuário do Linux tem algum problema, o motivo é que não sabe atualizar sua distro.
Mas isso não explica a quantidade de problemas que têm aparecido sobre malwares em plataformas Linux, inclusive Android.
O problema é o windows. Não que o windows tenha criado uma geração de vírus, mas o windows cunhou fortemente o conceito errado de que tudo é vírus. Todo problema, malware, tudo é vírus. E também foi graças ao windows que o conceito "se não funcionar, reinstala, se está lento, reinstala, e se quer mudar o wm, reinstala" se fortaleceu. Isso se faz bem claro nos usuários que, pra trocar o Unity no Ubuntu, reinstalam o sistema inteiro. Em geral com alguma refisefuqui.
Vírus é um pedaço de código que altera binários ou arquivos, e que se executa cada vez que esse programa é chamado ou aberto, no caso de arquivos.
Claramente isso não é possível no Linux por um simples motivo: quem executa o programa é o usuário e quem é o "dono" do binário é em geral o root.
Mas os problemas existem. E muitos. Existem os usuários que teimam em trabalhar como root no sistema, pra "facilitar as coisas". Em geral os mesmos que reinstalam os sistema inteiro pra apenas trocar o wm (window manager). Existem também os "programas de terceiros", como o plugin flashplayer, que não recebem as devidas atualizações de segurança. Felizmente esses "programas de terceiros" não causam danos ao sistema como um todo, mas infelizmente podem fazer estrago o suficiente com o usuário, como permitir que suas credenciais de banco sejam roubadas. Basta ver os recentes problemas do Java da Oracle. Recentes? Melhor dizer "contínuos".
E dá pra viver sem esses "aplicativos de terceiros"? Até dá, mas não é muito fácil. Alternativas existem, como pepperflashplugin ao invés do flash da Adobe, não usar acrobat reader ou seu plugin, mas os modos nativos do Firefox e do Chrome/Chromium pra renderizar pdf, etc. O problema não são os "aplicativos de terceiros", mas se esses terceiros tratam os usuários de Linux com respeito, atualizando a cada falha encontrada. Um bom exemplo dessa prática é o "steam", de jogos.
O problema então é o usuário, sempre?
Não. Novamente o problema vem do windows. Ou melhor, da idéia de vírus que veio com o uso do windows. Quando discutimos o conceito de vírus, sempre nos vem a imagem de um desktop. Daí os argumentos de problemas de segurança no Linux são apenas falta de atualização. Isso não é verdade.
O outro lado do problema apareceu bem recentemente durante os ataques de DDoS do grupo LizzardSquad contra as redes de jogos PSN e Xbox Live.
Lizard Squad used hacked routers to take down Xbox Live and PlayStation Network
Foram usados roteadores caseiros, desses que usamos pra ter acesso wi-fi as nossas redes dentro de casa. O artigo não diz, mas acredito que câmeras IPs também foram usadas.
Esse tipo de problema não é novidade. Foi discutido durante um dos YSTS, acho que o de 2013 que participei. fabricantes, em geral na China, criam seus produtos pra rodar Linux, mas não dão nenhuma manutenção. São sistemas customizados a ponto de ser impossível de rodar uma alternativa como dd-wrt/open-wrt. Esses sistemas rodam kernels Linux muito, mas muito velhos. Daí que as explorações de vulnerabilidades, não vírus, ficam fáceis. Nesse ponto temos de dar o braço a torcer pros usuários de windows. Defender Linux nessas condições é quase como apontar o dedo pras máquinas windows comprometidas que rodam a versão XP. O agravante é que o usuário se torna refém do fabricante, pois diferente dos computadores, esses sistemas embutidos não permitem que qualquer um atualize como quer, quando quiser, com a distro que mais gostar.
Então da próxima vez que ler sobre "vírus pra Linux", antes de cair na gargalhada, pense nesses roteadores e câmeras IPs. Pense se esses sistemas rodando um Linux 2.4.20 não pode ter sua segurança facilmente comprometida. Depois lembre que Windows, até hoje, pode ser comprometido acessando uma página web. Foi corrigido? Espere algumas semanas que sempre aparece de novo.
Ah... o windows...