Written by: Helio Loureiro
Category: Suécia
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Um mural de mãos feito pelos alunos da escola pra celebrar o fim do semetres.  Várias marcas de mãos feitas com tintas variadas, um coração desenhado no meio e mostrando o ano, 2018.

Se você chegou agora e está perdido com o título, leia o primeiro artigo:

Países considerados os mais felizes do mundo escondem problemas graves

Pra você que leu e talvez não tenha ficado claro o motivo de eu abordar as fotos nas revistas no primeiro artigo:  eu tentei mostrar que existe uma exigência de padrão de beleza bem menor que em países como o Brasil.  Aqui cada um veste o que quiser e do jeito que quiser.  E, claro, isso contribui pra felicidade da população.

E agora vamos falar um pouco das crianças.  Falar sem ver.  Por quê?  Porque a maioria dos lugares que eu adoraria mostrar não permitem fotos.  Tive de recorrer ao Google Maps para pegar algumas, mas as partes mais legais não aparecem porque em geral as escolas ficam dentro de parques.

Primeiramente que escola é obrigatória aqui.  A partir dos... acho que 6 anos (mas posso estar enganado, então pode ser que seja aos 7).  Começa no förskola (fer-is-cuo-la), ou primeira escola (primário), e depois vai do 1° ao 9˘ ano.  A partir daí é o colegial de 3 anos.  A escola em geral é gratuita, paga pelos impostos, mas descobri recentemente que alguma escolas internacionais em inglês são pagas.    Existem escolas em inglês que não são pagas, mas essas têm filas de 4, 5, e até mais anos.  Em geral é uma boa a escola em sueco pra criançada pegar o idioma, mas isso vai da decisão dos pais e suas possibilidades.

Independentemente de onde morar, é obrigatório a cidade oferecer uma vaga em até 3 meses na escola sueca.  Isso pode ser doloroso se estiver com aluguel de moradia curta de 6 meses, que é meio que regra aqui (e isso é muito ruim).

Na escola são dados materiais didáticos como cadernos, livros e canetas ou lápis.  Então basicamente você só precisa deixar a criança na escola e buscar depois.  Sobre o horário, muitas escolas abrem por volta das 6:30 da manhã, pra permitir aos pais que trabalham ou longe ou nesse horário pra ter onde deixar as crianças.  Pra buscar pode ser até às 7:30 da noite.  Mas se não me engano isso é de algumas escolas e o horário obrigatório é às 06:30 da tarde.   Na escola recebem alimentação pra ficar o dia inteiro.  E já esquecia desse ponto: as escolas são o dia todo.

Foto de um papel com um calendário desenhado pro uma criança, que contava os dias até o natal.

Além das aulas normais como de língua e matemática, nas escolas têm também aulas de culinária, marcenaria e costura.  Não aquela maravilha, mas vez ou outra sai umas  pizzas de forno (pão árabe, molho de tomate, presunto e queijo).  É comum também a escola levar a turma toda pra passeios em fazendas com animais.  Por quê?  Pra conhecerem os animais.  Então eles brincam com os coelhos, correm das galinhas e dão comida pros pôneis.  A escola também os leva pra aproveitar as piscinas indoor durante o inverno e a outdoor, que é bem rasinha, no verão.  Tem também passeios durante o inverno pra patinarem no gelo e, no ponto mais central, até esquiarem (existe um morro famoso aqui no centro que permite isso e não é muito alto).  Na escola ainda eles têm direito a 1 hora de aula da língua materna por semana.

Pra deixar bem claro: não é escola com aulas o dia todo, mas pra ter onde deixar as crianças.  A escola começa por volta das 8:30 e termina por volta das 14:00.  Alguns dias um pouco mais tarde, em outros um pouco mais cedo.   Desde o começo já aprendem a andar pela cidade.  Todas as atividades são ou nos parques ao redor das escolas ou em museus que em geral ficam em algum lugar distante, mais central, ou ainda nas tais fazendo que mencionei acima.  Então as crianças desde pesquenas são orientadas em como usar o transporte público.  Que é gratuito até os 8 anos.  E depois?  Continua gratuito pra maiores de 8 anos que precisam pegar transporte público pra ira à escola.  Eles oferecem um cartão que não paga nada até às 7:30 da noite durante a semana.  E, claro, o transporte de estudantes custa mais barato que o passe normal, caso precise comprar passagem pro fim de semana.

Imagem de crianças andando juntas com vestes amarelas para identificação.  Todas estão de costas para não serem identificadas.

 Em geral as escolas são próximas das residências.  Ao ponto das crianças irem sozinhas já com 7 ou 8 anos.  E eles incentivam isso.  Quando chegam numa certa idade, do ginásio, daí são escolas maiores e geralmente poucas por bairros.  E assim as escolas vão afunilando a localização conforme a criança vai crescendo.  É comum ver jovens indo pra escola de bicicleta.  Pra mostrar um pouco das escolas, vou recorrer ao Google Maps pelo motivo que já coloquei logo no começo do artigo: privacidade das crianças e adolescentes.

Foto do Google maps que mostra a entrada de uma escola primária num parque.

Foto de uma escola de alunos do ginásio.  Um prédio com 9 janelas, 3 por andar.  Na rua em frente um trator parado.

Foto do Google Maps que parece uma escola ao fundo com um playground na frente.  Eu não tenho bem certeza se esse prédio é uma escola.

E antes que me esqueça, aqui tem também uma bolsa pra cada filho melhor.  É chamado barnbidrag e vem metade pro pai e metade pra mãe, mesmo sendo casados.  Pra, no caso de separação e/ou divórcio, ficar tudo mais fácil.   É como uma bolsa família mas com a diferença de que todo mundo recebe, independentemente se sua renda mensal precisa ou não.  Não é um valor alto, por volta de 100 euros, mas é um dinheiro da criançada pra gastar com a criançada.

Bom... já descrevi da escola, mas onde está a parte relevante?  Onde está a parte que a Suécia esconde?

Aqui é comum ver as crianças, quando mais jovens, irem vestidas... como quiserem.  Meninos vão de vestido e meninas vão de vaqueiro.   Não existe um "menino usa azul e menina usa rosa", que é até considerado sexismo por aqui.  Tanto que uma loja de brinquedos viu-se no meio de uma discussão sobre sexismo ao separar os brinquedos em sessões "de meninos" e "de meninas".

Foto do Google Maps mostrando outro local de uma escola.  Mas como fica no meio do parque não é possível ver detalhadamente.  Aparece na foto um gramado grande, árvores e um prédio comprido de 2 andares ao fundo.

Pandemia

E como foram as escolas durante a pandemia?  Certo ou errado, a Suécia manteve a decisão de permanecer com escolas abertas até o 9° ano, pois o argumento foi de que era preciso manter as crianças na escola pros pais que trabalhavam na linha de frente pudessem continuar trabalhando.  Apenas os jovens do colegial passaram a ter aulas remotas.  E, claro, cada um recebeu um laptop pra poder participar das aulas.  Nas universidades também as aulas passaram pro modo remoto, mas não sei dizer se receberam um laptop pra isso ou não.

As ideias finais

Tá certo... mas isso não explica a reclamação dos pais moçambicanos, não é mesmo?  O que acontece aqui é que a Suécia trata cada criança como uma cidadã desde pequena.  Ao contrário de países como Brasil, onde os pais é que são seus guardiões, aqui o estado representa a criança e seus interesses.  Inclusive contra os próprios pais, se for o caso.  Então se um pai abusivo entrar em casa e bater numa criança, ou jovem, pode ser denunciado por esse à polícia.  É uma noção bastante estranha pra nós brasileiros, mas com o tempo você acaba acostumando (ou então volta pro seu país).

Existe uma discussão sobre a Suécia estar criando pequenos ditadores nesse sentido.  Mas eu diria que isso é um estigma de quem vem de fora e quer criar caso.   Ninguém comenta do sistema de ensino, das escolas gratuitas e só olham pra esse lado.  Claro que é mais fácil apontar pra um defeito, mas esquecer tudo mais que se ganha aqui?

Leva-se um tempo pra acostumar com as regras daqui e passar a tratar os filhos como... cidadãos.   Então como qualquer outra pessoa, você tem de sempre negociar.  Não vai tomar banho?  Não tem Internet.  Não vai pra escola?  Não tem youtube.  E por aí vai.  Não, não é tarefa fácil, como atestam os moçambicanos.

Mas falar de brasileiros ou moçambicanos pode até dar a ideia errada sobre o que está por trás disso.  O que acontece é que nem todo mundo compartilha os valores europeus.  E pra estar aqui, deveriam adaptar-se.  Então as famosas mutilações de genitais, praticadas em vários países do mundo, não é permitida aqui.  A criança pode denunciar os pais por tentarem fazer isso e pode ser direcionada pra viver com sob guarda do estado.

Estranho uma criança tendo direitos, não é?  Mas não devia ser.  Aqui não é.